sexta-feira, 10 de maio de 2013

é preciso muita ignorância para se fazer de feliz


Que dias são esses? Foram sempre assim os dias? A aspereza dos olhares me cutuca a alma tão forte que faz sangrar. Na fila do ônibus, se empurra, quem sabe para chegar logo em casa e fugir da dor da rua: que é a dor do mundo, com suas feridas expostas de pedidos de ajuda, de vendas de balas e de crianças jogadas nos bancos dos terminais, e vejam que nossos olhos nem são capazes de captar todo o absurdo produzido por um sistema que cria os pobres para sustentar nas próprias costas os ricos que são poucos, mas pesam muito. Empurram nas filas pela disputa mixuruca de uma cadeira que salve do aperto e da dor nas pernas que castiga a cada um de forma particular no fim de mais esse dia de trabalho, no fim de mais essa semana, no fim de mais essa esperança de que algo cure essa maldita dor e essa necessidade cotidiana de sobreviver.

A solidão sim é democrática, acompanha a todos.  

Sentada ao meu lado do ônibus, chora uma mulher, choro eu também por dentro fingindo não chorar porque o sofrimento dela me comove mais que o meu! Logo a frente um homem esquelético imprensado entre a multidão e uma barra de ferro tenta segurar duas sacolas cheias de tecido que devem ter o triplo do seu peso e claramente seu sustento. Uns, com fones de ouvido abafam o ruído do mundo se transportando para sabe lá que lugar de menor desconforto produzido e vendido aos tubos pelas empresas que produzem e vendem celulares, que a cada dia tem mais funções e duram menos, e cujo a maior e mais durável função é disfarçar a solidão de interação.

Fora do ônibus, o caos não é menor: A fileira de carros com outros solitários apressados em fugir, mas ainda não há a fuga desse planeta, então todos se apressam para chegar em casa e mergulhar na fuga da novela das oito. A industria da ilusão serve aos ricos entretendo os pobres.

E chegado o reino da ilusão: da televisão, dos antidepressivos, do consumo, mas nas engrossadas  fileiras da alienação todos continuam culpando as drogas.

Aqui, nesse tempo, nessa realidade, é preciso muita ignorância para se fazer de feliz!  

Nenhum comentário:

Postar um comentário