quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Sobre a magia dessa passagem...


E no fim, vinha uma ansiedade como uma espera suave e ao mesmo tempo inquietante que deixava no ar a duvida entre ir ou ficar. Nada certo. Nada escolhido. Os planos haviam se tornado inviáveis e entre aquele momento e o que vinha a seguir havia apenas a vontade de experimentar as plenitudes e ter uma passagem tranquila.

Os corações se encontraram no compartilhamento dos anseios e decidiram ir, bailar na incerteza, com o acalanto de que cada uma é capaz de cuidar de si, e mesmo assim, uma cuidaria da outra sempre que necessário, deixando espaço aberto para que o universo cuidasse de todas. Éramos três, intimamente ligadas pelo desejo recíproco em tornar tudo o mais belo e leve possível.

A direção foi escolhida: Leste, porque é onde nasce a Lua. Uma sugeriu as outras concordaram. Na estrada a sugestão de uma parada para o almoço logo ali: Canto Verde, onde o povo busca sobreviver entre os conflitos se sacudindo entre a beleza e o absurdo.  A beira de um mar sem tamanho, frente a uma beleza de deixar sem palavras e um almoço que afetava mais que um sentido a perfeição se tornou possível, mesmo contra as usuais regras de que não se pode encontrar a perfeição em um único lugar.

A vontade de ficar brotou, mas, o penúltimo dia do ano aparentava tornar difícil, naquele paraíso com espaço pra poucos e desejado por muitos, um lugar que servisse de ponto de apoio. No entanto, quando algo deve acontecer todo o universo converge para aquele fim, e não só achamos um lugar, como o encontrado superava as expectativas. Aconchegante, belo e funcional, e num terreno frente ao paraíso achou-se um lar para breve período.

O fim de tarde escorregou leve, entre gargalhadas, taças de vinho e uma musica inigualável que encantava até o tempo, fazendo-o decidir correr mais frouxo.

A noite que desceu perene sugeriu uma visita a amigos próximos, e  caminhando na areia fofa, chegamos aquela outra casa. Muitos já estavam por ali, e a musica era a cúmplice perfeita para um transbordamento. A música não se contentou com o usual e se revelou através de uma sincronicidade única. O violão, a voz e principalmente a bateria viraram fliperama para as crianças existentes pelo lado de dentro, e no fliperama para além de diversão foi possível achar muito talento. A arte mostra uma essência por muitas vezes esquecida, e decidiu agir naquela justa noite.

O encontro foi regado pela luz de uma lua que veio como pra espiar o que ali acontecia. Nem a lua que subia no céu toda avermelhada e por horas se escondendo tímida por trás das nuvens pode resistir o encanto daquela noite, e emergiu plena sobre nossas cabeças, fazendo a noite clara.

Com a madrugada, as despedidas para outros encontros, mais profundos. A palavra veio como mediação e busca de entendimento, porque não dizer até como fuga, porque a fuga por vezes é a alternativa mais coerente, uma pausa ante a impossibilidade de dizer plenamente.

O dia seguinte iniciou orgástico, com sabores desfrutados sob a cumplicidade do mar e do coqueiral. E, muito embora tudo vivenciado até aqui já valesse por tudo, aqui não se encerrou, fomos ainda ao encontro da lagoa, um cenário pra o pertencimento eterno onde o branco da areia e o azul da água compunham uma plenitude que chegava a ser palpável até à visão.

Por entre risos, fotografias e passos na areia, saudamos o ultimo dia do ano, que se despedia sem dor, e talvez até com certo alívio. A possibilidade do fim é que institui o recomeço.

Depois vivemos Canoa, a cidade lotada de mercado e turistas reiterou em nossas almas o privilegio de poder voltar para onde estávamos, e voltamos com a maior brevidade possível.

Ao retornar, outro presente recebido: A possibilidade de cozinhar o que comer e comer juntas, coisa tão simples e cada vez mais difícil. Melhor ainda quando se pode, ao terminar, viver um pouco de preguiça no corpo, e assim o fizemos como se em preparação solene para a passagem próxima.

O rito incluindo banho, perfumes, roupas devidamente preparadas e elogios recíprocos antecederam a caminhada a mesma casa do dia anterior. Taças de vinho. Momentos de introspecção. Momentos de dialogo. Fogueira. Gente rindo.

Na contagem dos minutos, a caminhada à outra fogueira, na beira do mar, e veio o momento da passagem, o momento em que o tempo delimitado pelos ponteiros, pelo calendário, e, sobretudo, pela necessidade de transformar o hoje em amanhã faz com que um ano passe sobre nossas vistas em dez segundos.

Esse momento que pede para ser bebido até sua ultima gota veio com preces, agradecimentos, com trocas, beijos, palavras, musica e dança... e se a perfeição cabe no tempo, o tempo foi aquele exato, onde não restaram duvidas nos olhos ou medos de incertezas ou tempo para o que não fosse fundamental.

Esse momento de passagem fechou e abriu. Fechou tudo que impedia de seguir com paz, rebaixando a condição de passado toda a dor, o medo. Abriu o mundo descortinando as possibilidades múltiplas para uma existência feliz.

E a mim só resta, relatar, agradecer e viver esse próximo ciclo com o carinho, a força e o respeito que esse começo me transmitiu.

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