Enquanto me falam de beleza e de
esperanças, e me desejam felicidades distribuindo rosas e cosméticos,
experimento o mundo real, onde nós mulheres somos coisificadas transformadas em
recipiente para tudo o que a de mais ofensivo e repulsivo.
Enquanto somos taxadas como
ilegais e tratadas como clandestinas por uma existência que não se enquadrando
nos padrões impostos pelo capital nem nos dogmas impostos pela fé em de leis,
de comerciais e de políticas, e, resistimos usando as forças que temos (que
diante a força da maquina quase some!) somos
condenadas a pagar fiança por pintar nos muros as frases que cintilam em nossas
mentes e que não encontram espaço na mídia (golpista e não laica!). Nosso
direito a expressão não existem em casa, nem nas ruas, nem na política dita
democrática!
Somos condenadas pelo Poder Legislativo e
Sistema Judiciário quando decidimos não levar a gravidez adiante porque avaliando
e sabendo qual é “a real” de viver e sobre quem recai todas as responsabilidades
da gestação, concepção e maternidade entendemos que não é o que queremos para
as nossas vidas, e, quando o aborto não é crime somos condenadas pelas
precárias políticas públicas a um percurso de dor e sofrimento, e ainda, somos
condenadas pelo discurso moralista e conservador que fixa no senso comum a
ideia de que até um embrião vivo é vida mais importante que a nossa. Nossa vida
não é considerada vida em casa, nas ruas, nem na política dita democrática!
Somos condenadas a recorrer a
diversas formas para sobreviver e para sustentar nossos filhos, inclusive a exploração
do nosso corpo e sexo, e somos condenadas as violências cotidianas dos
discursos, da polícia e dos homens que consomem nosso sexo como quem toma uma
cerveja, e também condenadas a ser fetiche, e sendo fetiche a ser objeto, e
sendo objeto ser dominadas e conduzidas, inclusive repartindo o pouco dinheiro
que conseguimos com um cafetão. Somos
condenadas pelo mesmo moralismo hipócrita que gera nossa exploração, e o faz,
para ter mais poder sobre nossos corpos.
Somos condenadas a violência lesbofóbica
que trata nossos afetos e desejos como doença ou como pecado e impregna nosso
cotidiano na família, na escola, na comunidade, nos serviços públicos. E somos
condenadas pelos partidos e governos que tratam nossa dignidade como peça para
leilão, negociando a nossas vidas com fundamentalistas religiosos recalcados
que na incapacidade de gozar demonizam nosso gozo.
Nas condenações do dia a dia morremos pouco a pouco, simbólica
e materialmente morremos um pouco mais quando parlamentares e gestores de
políticas públicas nos negam os direitos fundamentais em nome de Deus. Morremos
quando nossa fé (ou falta dela) é considerada demoníaca e esse discurso
reproduzido faz com que o mundo nos olhe que ódio. Morremos também quando nossa
expressão sexual é invisibilizada, demonizada, mercantilizada, e quando essas
concepções erradas das nossas vivências baseiam a estrutura perversa, social e
política, para negação dos nossos direitos mais básicos sob o pretexto de se
converterem em privilégios.
Morremos quando a miopia de quase todos trata a violência em
nossas vidas reduzindo-a a violência física deixando de ver o fundamental: A
violência contra as mulheres é estrutural e cotidiana!
Mas para não ser esse discurso composto somente do
pessimismo imposto pelos fatos, falarei da esperança, a esperança que emerge das
resistências teimosas que vamos plantando e cuidando. A esperança da produção
da vida e de significados pelos nossos corpos e por uma forma de fazer política
que nos contemple. A esperança da ação
feminista no mundo, não para sermos maiores, porque odiamos a injustiça e não
só a contra nossas vidas, nem para sermos somente iguais, porque iguais, só mesmo
no acesso aos direitos, mas para vivermos a equidade no mundo, sendo respeitadas
em nossas diversidades e vivenciando efetivamente o que há de bom, belo e
prazeroso!
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