quinta-feira, 7 de março de 2013

Sobre o 8 de março - nossas dores e esperanças


Enquanto me falam de beleza e de esperanças, e me desejam felicidades distribuindo rosas e cosméticos, experimento o mundo real, onde nós mulheres somos coisificadas transformadas em recipiente para tudo o que a de mais ofensivo e repulsivo.  

Enquanto somos taxadas como ilegais e tratadas como clandestinas por uma existência que não se enquadrando nos padrões impostos pelo capital nem nos dogmas impostos pela fé em de leis, de comerciais e de políticas, e, resistimos usando as forças que temos (que diante  a força da maquina quase some!) somos condenadas a pagar fiança por pintar nos muros as frases que cintilam em nossas mentes e que não encontram espaço na mídia (golpista e não laica!). Nosso direito a expressão não existem em casa, nem nas ruas, nem na política dita democrática!

 Somos condenadas pelo Poder Legislativo e Sistema Judiciário quando decidimos não levar a gravidez adiante porque avaliando e sabendo qual é “a real” de viver e sobre quem recai todas as responsabilidades da gestação, concepção e maternidade entendemos que não é o que queremos para as nossas vidas, e, quando o aborto não é crime somos condenadas pelas precárias políticas públicas a um percurso de dor e sofrimento, e ainda, somos condenadas pelo discurso moralista e conservador que fixa no senso comum a ideia de que até um embrião vivo é vida mais importante que a nossa. Nossa vida não é considerada vida em casa, nas ruas, nem na política dita democrática!

Somos condenadas a recorrer a diversas formas para sobreviver e para sustentar nossos filhos, inclusive a exploração do nosso corpo e sexo, e somos condenadas as violências cotidianas dos discursos, da polícia e dos homens que consomem nosso sexo como quem toma uma cerveja, e também condenadas a ser fetiche, e sendo fetiche a ser objeto, e sendo objeto ser dominadas e conduzidas, inclusive repartindo o pouco dinheiro que conseguimos com um cafetão.  Somos condenadas pelo mesmo moralismo hipócrita que gera nossa exploração, e o faz, para ter mais poder sobre nossos corpos.

Somos condenadas a violência lesbofóbica que trata nossos afetos e desejos como doença ou como pecado e impregna nosso cotidiano na família, na escola, na comunidade, nos serviços públicos. E somos condenadas pelos partidos e governos que tratam nossa dignidade como peça para leilão, negociando a nossas vidas com fundamentalistas religiosos recalcados que na incapacidade de gozar demonizam nosso gozo.

Nas condenações do dia a dia morremos pouco a pouco, simbólica e materialmente morremos um pouco mais quando parlamentares e gestores de políticas públicas nos negam os direitos fundamentais em nome de Deus. Morremos quando nossa fé (ou falta dela) é considerada demoníaca e esse discurso reproduzido faz com que o mundo nos olhe que ódio. Morremos também quando nossa expressão sexual é invisibilizada, demonizada, mercantilizada, e quando essas concepções erradas das nossas vivências baseiam a estrutura perversa, social e política, para negação dos nossos direitos mais básicos sob o pretexto de se converterem em privilégios.

Morremos quando a miopia de quase todos trata a violência em nossas vidas reduzindo-a a violência física deixando de ver o fundamental: A violência contra as mulheres é estrutural e cotidiana!

Mas para não ser esse discurso composto somente do pessimismo imposto pelos fatos, falarei da esperança, a esperança que emerge das resistências teimosas que vamos plantando e cuidando. A esperança da produção da vida e de significados pelos nossos corpos e por uma forma de fazer política que nos contemple.  A esperança da ação feminista no mundo, não para sermos maiores, porque odiamos a injustiça e não só a contra nossas vidas, nem para sermos somente iguais, porque iguais, só mesmo no acesso aos direitos, mas para vivermos a equidade no mundo, sendo respeitadas em nossas diversidades e vivenciando efetivamente o que há de bom, belo e prazeroso!

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