domingo, 9 de outubro de 2011

Do fim das dores de Maria das Dores

 Eis que Maria das Dores andava pelas ruas com um vago em si que nada poderia explicar. De repente era como se algo que nunca teve começasse a lhe faltar e era de uma falta doída de partir ao meio o coração. Ela que nunca foi dada a lamentações, andava pelos cantos, chorosa e suspirando e nada que lhe era apresentado era capaz de consolar tamanha dor. Havia perdido algo? Mas como perder o que não houvesse em algum momento,  por mais fugaz que fosse esse,  tido? Se perguntava, refletia e não chegava a conclusão nenhuma. Tentou terapia e nada lhe apontava nenhum caminho por mais torto que fosse.

Buscou padre, umbandista, espírita, xamã, budistas e nada. Meditou, correu, pintou, escreveu e nadica de nada. Fez compras, viajou, foi ao cinema, leu livros e em um ano sentia-se como se além da perda anterior (que não reconhecia mesmo) houvesse perdido trezentos e sessenta e cinco dias. Maria estava a beira de um colapso, trilhando o desespero rumo a única fatalidade que se apresentara a ela como alternativa efetiva (o suicídio).

Quando sentou em um banco e olhou o mar e olhando o mar se sentiu mar também, e se sentiu de repente horizonte e céu, e sentiu como se fosse terra e parenta próxima de tudo que é vivo e aí conseguiu olhar para o lado e ver Joana, olhar no fundo dos seus olhos absurdamente brilhantes e profundos e um sorriso seguiu outro, e uma palavra outra, e depois o abraço, a pele na pele, e logo ela, que nunca havia transado sequer no primeiro encontro achou na pele de outra mulher um prazer que nunca havia sentido. Maria sentiu-se de si mesma e nunca mais nada lhe faltou. 

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