quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Quando virei passarinho

Lindo foi entardecer junto com aquele dia! Lembro que tínhamos pouco dinheiro e muita vontade, e que contamos as moedas para comprar um sorvete na farmácia que ficava próximo a praça da bandeira. Não podíamos comprometer a passagem de volta, põe isso, compramos uma marca nova que tinha uma textura um pouco mais lingueta do que deveria, mesmo assim nos pareceu fabuloso! Tomamos o sorvete, sentadas na calçada,  enquanto decidirmos ir caminhando a praia. Não estava distante e a companhia valia ir pro Japão andando. Fomos a tempo de se despedir do sol. Lembro bem de sentarmos na areia e dos corpos meio empanados, e de com a noite toda derramada sobre nós nos entregarmos às lambidelas das ondas, e, livres dos olhos e dos pudores fazer isso livres também das roupas. Lembro ainda da volta pra casa, dos risos e das cócegas no espírito que faziam aquelas palavras. Depois um banho de chuveiro e a agua gelada que descia expulsando o sal dos poros, as toalhas limpas e as cobertas quentes fazendo da cama um ninho. Lembro do encaixe do corpo e dos espasmos de prazer madrugada a dentro, e lembro de no outro dia acordar meio passarinho cantando a manhã. Depois tempo e distância e a vida seguindo dia a dia sem sorvetes, risos ou ninhos. Mesmo assim, valeu a vida aquele dia!

Um comentário:

  1. Seus escritos estao cada vez mais soltos com pinceladas de acrilica sobre a tela . Isso é o bom que provoca um vai e vem gostoso em quem lê.

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