quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Grandes eventos e pequenos momentos


Vagueando na solidão, dei-me a pensar na atual (ou não tão atual assim, mas de todo modo, contemporânea) fascinação, quase fetichista por eventos. Não me refiro aqui a eventos ritualísticos de passagem, uma vez que esses considero não em seu momento mas em um contexto que prossegue possível no cotidiano mesmo pós sua passagem. Refiro-me as datas sem significado e repetitivas, as estratégias repetitivas, aos eventos que são sempre o mesmo em essência e não possuam uma caracterização por irromper um terreno de cotidiano (ou modo de vida) construindo um novo cotidiano ou modo de vida.
Preocupa-me fortemente essa cultura do festejo vazio, que se de uma lado parece-me o necessário alivio a uma vida de dor, de outro lado é a fuga dessa dor que não se isola no momento, e isso fomentado cautelosa e sutilmente pelo sistema em que vivemos que nos anestesia para que não reajamos diante dele. Preocupa-me mais ainda a forma em que as possíveis forças de transformação desse sistema são quase ingenuamente cooptados por estratégias sutis como essa ( e tantas outras como a ditadura da falta de tempo, a disputa interna, etc.).
Não estou aqui desconsiderando a importância histórica de muitos eventos, mas essa importância não reside nos eventos em si, mas no que reverberam a posterior e o que levou a ele anterior a si. Grandes eventos só tem significância se puderem gerar algo mais duradouro. O Big Bang fomentou a criação do universo, mas foi a relação entre átomos e moléculas que duraram milênios que tornou possível a existência de tudo que há.

Nenhum comentário:

Postar um comentário