domingo, 5 de junho de 2011

Maria e a enorme bolha de sabão


Maria andava insatisfeita. Ela que sempre foi muitíssimo curiosa sentia que não conseguia perceber as coisas do mundo assim como queria de onde e como estava. Decidiu então: Fazer uma enorme bolha de sabão que flutuasse com ela e a levasse para ver o mundo de uma altura onde pudesse ver mais.
Assim Maria fez, pegou muito sabão, uma bacia bem grandona e bambolê. Mergulhou o bambolê na bacia cheia de água e sabão e soprou, soprou, soprou. Quando percebeu que a ia se formar a bola, Maria entrou nela e parou de soprar.

A bolha começou a flutuar, levando Maria para diversos lugares.

Inicialmente Maria teve um pouco de medo de flutuar, mas depois sentiu-se muito segura.  De dentro da enorme bolha de sabão a temperatura era sempre a mesma e ela podia observar as coisas, conhecendo tudinho que havia no mundo.

Depois de uma longa viagem Maria se convenceu que era então a pessoa mais sábia do mundo. Tivera a idéia genial de ver o mundo todo fora dele, e assim, segundo ela dava para ver bem melhor, e em pouco tempo já havia conhecido tudo mesmo.

Mas Maria enfrentava agora um outro problema. Com quem iria agora conversar? Quem seriam seus amigos, afinal, tinham que saber o que ela sabia, ou pelo menos um pouco para terem o que conversar.

Foi quando Maria conheceu um pássaro bicudo que vivia a viajar no mundo migrando de um lugar ao outro e pensou:

- Ele pode ser meu amigo. Afinal tem a mesma experiência que eu tenho de ver o mundo de cima. E foi conversar com o pássaro.

- Oi seu pássaro. Disse Maria – Quer ser meu amigo?
- Porque  eu seria – retrucou o pássaro.
Que pássaro metido – Pensou - mais mesmo assim ele voa, vou insistir um pouco mais.
- Porque nós dois conhecemos o mundo do mesmo modo – disse ela.
- Claro que não – disse o pássaro.
Maria já se irritando:
- Claro que sim, nós dois vemos o mundo de cima. Podemos ver e saber de todas as coisas que existem lá embaixo.
- Minha cara, existem algumas diferenças do modo que conhecemos o mundo. Uma delas é que eu vejo de cima, mas sem nenhuma bolha para atrapalhar minha visão. Quando a luz bate na sua bolha, tudo fica colorido, mas não significa que realmente seja colorido. Você me entende¿ Outra coisa é que constantemente desço e vejo todas as coisas que vejo aqui de cima, e percebo que só a visão não é bastante para conhecê-las, quando as vejo de baixo percebo que elas tem cheiro, textura, são maiores do que posso ver daqui de cima, tem vida. Conhecer as coisas vai para além de vê-las. É participar delas. Percebê-las e ver com que se relacionam.
- Há... mas eu já as conheci assim também, e não achei bom. Assim sou bem mais inteligente que todos os outros que estão lá embaixo e só podem ver o que está a sua volta. Eu aqui posso ver tudo e saber como realmente são.
- Como se engana – respondeu o pássaro – não existe o maior conhecimento que você presume. O que existe são formas distintas de enxergar as coisas.

De saco cheio que estava, e sem querer abrir mão da sua enorme bolha de sabão, Maria começou a impulsionar o corpo tirando a bolha de sabão de perto do pássaro e prosseguiu sua viagem. Após algum tempo, Maria começou a se sentir só e resolveu aterrissar para conversar com alguém. Desceu e encontrou uma menina, risonha. Maria tentou conversar com a menina, mas ela não respondia, falou gritou e nada. Até que percebeu que a menina não escutava. Era uma pena. Maria não sabia falar Libras, e ficou com medo que fazendo movimentos estourasse sua bolha. Preferiu ir embora.  

Os anos foram passando. Maria foi envelhecendo solitária em sua bolha de sabão.  As coisas que via de cima já não eram tão interessantes, ela as via sempre iguais, sempre do mesmo jeito pequeninhas e paradinhas.  Resolveu então se desfazer de sua bolha de sabão. Foi descendo, descendo até chegar num lugar seguro para estourar a bola sem se machucar.
Chegando embaixo Maria começou a conversar com todo mundo que via na rua. Crianças, velhos, mulheres e homens e percebeu que gente esperta. Todo mundo sabia algo que ela não sabia e pouco importava na vida do dia a dia as coisas que vira de cima. Não que não importassem completamente, mas não eram realmente completamente corretas. Foi ai que Maria lembrou-se do pássaro e do que ele a dissera. Decidiu então procurá-lo para saber o que ela não havia escutado com sua arrogância.

Infelizmente, outra coisa que Maria não sabia é que vida de pássaro é diferente da vida de gente. O pássaro já tinha morrido, foi o que lhe informou um viajante. Maria falou ao viajante da conversa que tivera com o pássaro e que o procurava para saber o que mais ele poderia lhe ensinar, começou a chorar. Agora nunca mais saberia o que ele iria lhe falar naquele dia. O viajante então disse a ela:

- Pare de chorar moça. Pare de chorar. O que ele lhe diria você concluiu. Só precisou de mais tempo.
 - Como você sabe disso. Eu posso ainda não saber o que ele me diria.
- Sabe sim moça, sabe sim. Caso contrário não teria se livrado da tal bolha. Acho que ele lhe diria algo que me disse também. Conhecer a vida, o mundo e as pessoas, é sim pensar sobre elas, mas nunca olhá-las de cima.  Conhecer as coisas, do jeitinho que elas são exige participar delas, e as vezes não dar para ver tudo de todos os ângulos, então, precisamos das pessoas, saber como elas vêem as coisas também. Nesse mundão não há quem saiba tudo, nem quem não saiba nada.

Maria foi embora pensativa. Nunca mais viu o viajante, mas depois dessa conversa viu tudo de um modo diferente.

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